Há uma briga atualmente, no mundo da educação, em torno da questão da alfabetização e do letramento. Muitos julgam que, da alfabetização mal executada, ou executada com uma metodologia insuficiente, surgem deficiências de leitura que, logo em seguida, se tornam deficiências de escrita, e ambas durarão a vida toda se não remediadas.
E, realmente, é impossível tapar os olhos para a realidade de que, ainda que quase 100% dos brasileiros tenham passado pelo ritual de alfabetização em alguma escola nacional, um percentual muito marginal escreve e fala com consciência mínima das regras do idioma. É na prática impossível que isso nada tenha a ver com uma metodologia viciada. E a conclusão inescapável é que, se é para gastar o que se gasta para se ter esse pífio resultado, então a consequência final só pode ser sentar e chorar.
Ou levantaremos e, de cabeça em pé, faremos algo a respeito disso. Pois, se o mastodôntico monstro estatal não é passível de ser transmutado em eficaz por nós, meros mortais, resta-nos a solução bem prática, e moralmente iniludível, de que devemos nos defender ao menos em âmbito particular e familiar de sua ação tentacular e peçonhenta.
Se essa é a sua visão sobre o assunto, pare agora de se lamuriar por causa do seu analfabetismo funcional e tome algumas medidas bem simples e práticas; afinal, você está lendo este texto até aqui, então alguma coisa você já consegue fazer. E com essa base vamos avançar.
Primeiro, entenda que há duas formas gerais de se alfabetizar, isto é, de se dominar as letras:
a) a sintética
b) a analítica
E a boa notícia é que você não precisa escolher uma. Mas priorize, no começo, a sintética.
Elas funcionam assim: a sintética parte das unidades mínimas e vai às maiores. Das letras às palavras, destas às frases e parágrafos, por fim se chegando ao texto. Não admira que se chame fonético ou fônico a esse método, porque quanto mais elementar a forma linguística, tanto mais ela será som e não sentido. Deu-se-lhe o nome de sintético porque tal método vai pegando os elementos mínimos da língua e os vai sintetizando, isto é, unindo até formar o que se pretende: a linguagem que significativa de ideias.
O pulo do gato aqui é que você, mesmo que já seja avançadinho no departamento dos anos, tem de exercitar os diversos sons da língua, nas unidades mais básicas – letras, depois sílabas, então palavras – como uma criancinha mesmo, sem medo de ser feliz. Se não exercitou na hora mais apropriada, a hora é agora mesmo. Tudo isso porque língua é som antes de ser significado. Ela é mais significado do que som, mas sem som não há significado, nem escrita.
O método analítico é, por óbvio, o contrário do sintético. Ele toma as unidades maiores, podem ser a palavras, as frases ou até, no limite, um texto curto, para quebrar as partes significativas até chegar ao som. O problema é que muitas vezes não chega ao som, já que o sentido atrai para si, como um imã, e, assim, muitos professores acham que a parte da consciência sonora se resolve “sozinha” ou já está resolvida (afinal, os alunos já falam!).
Mas não é bem assim. É preciso apurar ao máximo o ouvido para os ritmos e os sons, seja as rimas, seja as aliterações, seja as qualidades sonoras de cada letra (força, suavidade, expansão, contração), só com isso o estudante terá consciência plena do fenômeno linguístico. Ele entenderá que o significado se forma a partir de unidades menores, mas que ele também se desfaz, em dado ponto, em mero som. Assim será notado, por experiência, que o som é a base que sustenta o significado, e que a língua não é apenas algo mental, abstrato, nem indefinidamente manipulável, como parecem querer certas escolas da linguística.
Enfim, caso você se sinta uma analfabeto funcional, entenda que para resolver isso você precisa revisar a sua… alfabetização! Não é o fim do mundo, não é algo irrecuperável. Basta querer e, a depender do caso, pedir ajuda. E começar a ler muito. Sem isso, nada vai fluir, nada vai dar certo. Ao trabalho!